VIAGEM SOLITÁRIA
Aos 16 anos vivi a paixão da minha vida. Ela era filha de pais emigrantes em França e depois de um Verão passado ao sabor das festas e do amor, chegou inevitavelmente a hora da despedida. Foi no final de Agosto, eu ainda tinha quase um mês de ferias e o meu coração, uma semana depois da despedida, não aguentou e fiz-me à estrada. Consegui “patrocínio” para comprar o bilhete de ida e volta e lá fui eu de Mirandela a Perigourd.
Surpreendi tudo e todos e passei um dos melhores momentos da minha vida. Foram duas semanas intensas em emoções e sensações que desconhecia mas que adorava.
Lá chegou mais uma vez a hora da despedida, agora era eu que ia de viagem, e que viagem…
Ao contrario da ida para França, o regresso era como uma assombração que se adivinhava negra e sofrida.
Não demorei muito a sentir-me sufocado e farto de ir ali, em sentido contrario ao da felicidade. Tudo à minha volta me irritava, ou os bancos do autocarro (que não deitavam) ou os vizinhos que ressonavam. Fui acumulando até à fronteira com a Espanha. Ai saímos e disseram-me que tinha de esperar por outro autocarro para me levar até Portugal. Nunca me vou esquecer, foi em Irun, estive três horas à espera. Não me apetecia falar com ninguém, sentia um vazio tão grande que se abrisse a boca gritava de certeza. Foi então que tirei uma caneta e comecei a escrever nas costas do bilhete. Não consegui parar mais, sentia que ia libertando parte daquela dor no que escrevia. Quando já não havia espaço no bilhete, procurei outro papel e outro, e outro. Escrevi durante quase três horas, essencialmente descrevia o que estava a sentir, sempre dirigido à pessoa amada. Foi um desabafo que me ajudou a fazer aquela viagem tão solitária.
B.B.